Sabendo de sua doença, e pelo óbito dos médicos, parou de viver para começar a sobreviver, esperando que sua morte chegasse, que só ocorreu aos seus 82 anos, no dia 13/10/1968.
Foi um dos poetas mais líricos da literatura brasileira. Era muito sensível, devido a espera pela morte e da ânsia de privilegiar no pequeno cotidiano a visão do último momento.
Seu inicio foi simbolista(com musicalidade) que foi substituída pela liberdade moderna.
A partis dos livros "Carnaval" e "Ritmo dissoluto" foi se tornando modernista. Porém, onde é mais visível o modernismo, é no livro "Libertinagem".
Duas características do Manuel Bandeira são:
- Tratamento da linguagem: a um só tempo concisa, simples e farta de polissemia (vários sentidos a uma mesma palavra).
- Mágoa, mal-oculto: Sentimento de frustração que transborda num olhar imerso em ternura, sobre o cotidiano.
Libertinagem
Algumas características da obra "Libertinagem" são:
- Alcança maturidade poética em relação as propostas de libertação artística da modernidade.
- Linguagem: Exprime o máximo com o mínimo de palavras.
- Autobiografias melancólicas, exemplos: "Não sei dançar", "Andorinha", "Profundamente"
- Ironia, exemplo:"Pneumotórax"
- Busca a evasão em "Vou-me embora para Pasárgada"
- Sociedade, exemplos: "Irene do céu" e "Poema tirado de uma notícia de jornal"
- Metalinguagem e a definição de sua poesia em "Poética"
- Lirismo saudonista em "Evocação do Recife" e "Pasárgada"
- Pneumotórax é uma das obras com ironia e que acaba desabafando sua dor, que logo é quebrado pela sátira.
"Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire
....................................................
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino."
Pneumotórax, Manuel Bandeira
A onomatopéia "tosse, tosse tosse" lembra os poemas-piada De Oswald Andrade, e o eu-lírico não se entrega a sentimentalismo e ironiza a si mesmo.Poesia da Ausência
O poema "Profundamente" com muita sensibilidade nos apresenta uma das faces da morte: a ausência.
O poema trata de dois momentos diferentes dessa ausência:
- A presença do eu-lírico, uma ausência passageira (dormência) e a ausência final, a morte.
Poderíamos dividir o poema em duas partes:
- 1ª parte: 3 primeiras estrofes
Primeira estrofe: festa de São João enumerações de detalhes visuais e auditivos em sua descrição. Não há pontuação, só uma ideia de simultaniedade que as ações ocorriam, dando impressão de um olhar encantado, infantil.
Segunda estrofe: Fica evidente que não havia mais ruídos.
Terceira estrofe: Sugere uma pausa no tempo. O eu-lírico se da conta de que quando está presente os outros estão ausentes. Cenas relatadas foram passadas num momento anterior (ontem) ao momento da fala.
- 2ª parte: 3 últimas estrofes
Mudam a perspectiva temporal.
O eu-lírico sugere que o "ontem" do 1ºbloco foi de fato a véspera do dia de São João, quando tinha 6 anos.
O último verso é o ponto final. O 1º"Profundamente" é o sono reversível, já o 2º é a morte irreversível.
"Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
*
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente."
Profundamente, Manuel Bandeira
Tereza
Figura feminina nada idealizada.
O "eterno amor" não se adequa ao modernismo
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