terça-feira, 18 de agosto de 2009

~> Manuel Bandeira

Manuel Bandeira foi um grande escritor brasileiro, que nasceu em Recife no dia 19/04/1886, e depois mudou-se para o Rio de Janeiro e depois foi para São Paulo, para poder estudar, pretendia ser arquiteto, porém teve que interromper seus estudos por saber que tinha tuberculose que era um mal do século, tendo que voltar ao Rio de Janeiro.
Sabendo de sua doença, e pelo óbito dos médicos, parou de viver para começar a sobreviver, esperando que sua morte chegasse, que só ocorreu aos seus 82 anos, no dia 13/10/1968.
Foi um dos poetas mais líricos da literatura brasileira. Era muito sensível, devido a espera pela morte e da ânsia de privilegiar no pequeno cotidiano a visão do último momento.
Seu inicio foi simbolista(com musicalidade) que foi substituída pela liberdade moderna.
A partis dos livros "Carnaval" e "Ritmo dissoluto" foi se tornando modernista. Porém, onde é mais visível o modernismo, é no livro "Libertinagem".
Duas características do Manuel Bandeira são:
- Tratamento da linguagem: a um só tempo concisa, simples e farta de polissemia (vários sentidos a uma mesma palavra).
- Mágoa, mal-oculto: Sentimento de frustração que transborda num olhar imerso em ternura, sobre o cotidiano.


Libertinagem


Algumas características da obra "Libertinagem" são:
- Alcança maturidade poética em relação as propostas de libertação artística da modernidade.
- Linguagem: Exprime o máximo com o mínimo de palavras.
- Autobiografias melancólicas, exemplos: "Não sei dançar", "Andorinha", "Profundamente"
- Ironia, exemplo:"Pneumotórax"
- Busca a evasão em "Vou-me embora para Pasárgada"
- Sociedade, exemplos: "Irene do céu" e "Poema tirado de uma notícia de jornal"
- Metalinguagem e a definição de sua poesia em "Poética"
- Lirismo saudonista em "Evocação do Recife" e "Pasárgada"
- Pneumotórax é uma das obras com ironia e que acaba desabafando sua dor, que logo é quebrado pela sátira.

"Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire
....................................................
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino."
Pneumotórax, Manuel Bandeira
A onomatopéia "tosse, tosse tosse" lembra os poemas-piada De Oswald Andrade, e o eu-lírico não se entrega a sentimentalismo e ironiza a si mesmo.


Poesia da Ausência


O poema "Profundamente" com muita sensibilidade nos apresenta uma das faces da morte: a ausência.
O poema trata de dois momentos diferentes dessa ausência:
- A presença do eu-lírico, uma ausência passageira (dormência) e a ausência final, a morte.
Poderíamos dividir o poema em duas partes:
- 1ª parte: 3 primeiras estrofes
Primeira estrofe: festa de São João enumerações de detalhes visuais e auditivos em sua descrição. Não há pontuação, só uma ideia de simultaniedade que as ações ocorriam, dando impressão de um olhar encantado, infantil.
Segunda estrofe: Fica evidente que não havia mais ruídos.
Terceira estrofe: Sugere uma pausa no tempo. O eu-lírico se da conta de que quando está presente os outros estão ausentes. Cenas relatadas foram passadas num momento anterior (ontem) ao momento da fala.
- 2ª parte: 3 últimas estrofes
Mudam a perspectiva temporal.
O eu-lírico sugere que o "ontem" do 1ºbloco foi de fato a véspera do dia de São João, quando tinha 6 anos.
O último verso é o ponto final. O 1º"Profundamente" é o sono reversível, já o 2º é a morte irreversível.

"Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes

Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.

*

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?

— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente."
Profundamente, Manuel Bandeira

Tereza


Figura feminina nada idealizada.
O "eterno amor" não se adequa ao modernismo

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